terça-feira, 11 de agosto de 2009

Eles uma hora vão pra lá, outra pra cá


" ... Quando eu dava aulas, os estudantes perguntavam sobre tais tempos. Eram alunos que as escolas reputavam incômodos e terminavam afastados dos cursos. A direção ouvia as gravações das aulas e me chamava. Para que eu informasse quem tinha me interrogado. Denunciasse.
No início, recusava. Havia justificativas. Naquelas classes de trezentos alunos (a Mariza Abreu procurou aqui a ideia da enturmação), eu alegava, era impossível saber quem tinha feito a Pergunta Intragável, como dizia a direção. Que tamanho terão as classes hoje? Quinhentos, seiscentos alunos. Bem que gostaria de saber.
Depois, a situação foi ficando mais difícil, era sempre em minhas aulas que as perguntas intragáveis surgiam. A direção queria saber por quê. Que tipo de coisas eu andava dizendo fora das classes. Mandaram me seguir, plantonaram minha casa, interceptaram meu telefone (o pessoal do sistema Guardião também leu?).
Solucionaram, obrigando a pessoa interessada em perguntar a se identificar, antes. Muitos se calaram, outros preferiram enfrentar punições. "Essa época de locupletação não existiu. Foi calúnia" (ih! sem fatos novos, sem provas, por favor não coloquem palavras na minha boca, vou cerrar os dentes, operação Detran: nããõooo!!!! ops! escapou!), garantia a direção. Fala-se muito, mas onde estão os documentos? Invenções, mitos (coisas da Luciana, do Psol, do Tarso, do PT).
Isso, mitos populares (tipo Brizola que era o único que enfrentava essa mídia interesseira). O senhor conhece os mitos populares? O saci existe? O caipora, a mula-sem-cabeça, o lobisomem? Que esperança. São fantasias criadas que se perpetuam, para colocar medo nas pessoas. Está vendo como a tradição oral é coisa perigosa, traiçoeira? ..."
Texto retirado do livro "Não Verás País Nenhum", de Ignácio de Loyola Brandão.
Minhas observações em vermelho, para variar.

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