Alguns comentaristas orgulham-se em qualificar sua oposição ao governo Lula como "espírito de porco". A expressão dispensa comentários: calcada na suposta lucidez contestadora, tenta dissimular (e pateticamente evidencia) uma essência antidemocrática muito semelhante à do udenismo golpista dos anos 60.
O fenômeno tem porta-vozes identificáveis, por exemplo, nas tentativas de politização da tragédia com o avião da TAM, dois anos atrás. Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo (Veja), Dora Kramer (Estadão), Ali Kamel (Globo), Jorge Forbes, Márcia Tiburi e Betty Lago (GNT), Míriam Leitão e Merval Pereira (CBN), Eliane Catanhêde e Danuza Leão (Folha) responsabilizaram as autoridades federais, antes de qualquer investigação, aproveitando a dor generalizada para pedir o afastamento de ministros e até do presidente da República. Certo Francisco Daudt chegou ao cúmulo de afirmar que "o governo assassinou mais de 200 pessoas".
Esses personagens promovem muitas outras unanimidades abjetas, escorados na pretensa modernidade do conservadorismo cínico e moralista que já alcança hegemonia mundial. À parte os vícios ideológicos e o proselitismo partidário, suas mensagens são perigosas porque, misturando pruridos elitistas, fascínio cosmopolita e farisaísmo ético, resultam em desprezo pelas instituições republicanas.
Esse subtexto explica por que o discurso porcino soa tão uniforme, embora cheio de contradições. Há uma lógica nefasta em atacar ao mesmo tempo as mordomias e as festas juninas palacianas, o "bolsa-esmola" e os privilégios do capital, o nacionalismo e a subserviência, as impropriedades verbais e o destaque internacional de Lula. Trata-se de negar a própria legitimidade do mandatário que comete a ousadia de ser "popular" (na dupla acepção da palavra), revelando um país que seus adversários detestam.
Guilherme Scalzilli, historiador e escritor. Revista Caros Amigos número 152, novembro de 2009. Para acessar o blog, do Guilherme, clique aqui.
O fenômeno tem porta-vozes identificáveis, por exemplo, nas tentativas de politização da tragédia com o avião da TAM, dois anos atrás. Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo (Veja), Dora Kramer (Estadão), Ali Kamel (Globo), Jorge Forbes, Márcia Tiburi e Betty Lago (GNT), Míriam Leitão e Merval Pereira (CBN), Eliane Catanhêde e Danuza Leão (Folha) responsabilizaram as autoridades federais, antes de qualquer investigação, aproveitando a dor generalizada para pedir o afastamento de ministros e até do presidente da República. Certo Francisco Daudt chegou ao cúmulo de afirmar que "o governo assassinou mais de 200 pessoas".
Esses personagens promovem muitas outras unanimidades abjetas, escorados na pretensa modernidade do conservadorismo cínico e moralista que já alcança hegemonia mundial. À parte os vícios ideológicos e o proselitismo partidário, suas mensagens são perigosas porque, misturando pruridos elitistas, fascínio cosmopolita e farisaísmo ético, resultam em desprezo pelas instituições republicanas.
Esse subtexto explica por que o discurso porcino soa tão uniforme, embora cheio de contradições. Há uma lógica nefasta em atacar ao mesmo tempo as mordomias e as festas juninas palacianas, o "bolsa-esmola" e os privilégios do capital, o nacionalismo e a subserviência, as impropriedades verbais e o destaque internacional de Lula. Trata-se de negar a própria legitimidade do mandatário que comete a ousadia de ser "popular" (na dupla acepção da palavra), revelando um país que seus adversários detestam.
Guilherme Scalzilli, historiador e escritor. Revista Caros Amigos número 152, novembro de 2009. Para acessar o blog, do Guilherme, clique aqui.
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